Excelentíssimos Senhores e Senhoras,
É com profunda reverência e sentimento de honra que me dirijo aos leitores desta missiva, promissores neófitos do Direito, que hoje se lançam ao fascinante e exigente labor jurídico. Permitam-me, em prelúdio a esta jornada, ofertar uma saudação que, ao mesmo tempo em que celebra este momento singular, almeja ser um convite à reflexão sobre os valores perenes que devem guiar-vos nesta nobilíssima senda.
Ao evocar a memória do insigne Ruy Barbosa, especialmente sua célebre "Oração aos Moços", invoco não apenas a eloquência incomparável daquele que foi uma das maiores luzes de nossa cultura jurídica, mas também o compromisso que ele nos legou com a defesa intransigente da dignidade humana. Em suas palavras, o advogado é aquele que, de posse da lei e da palavra, eleva-se em nome dos fracos contra os poderosos, e que, movido por um ideal de Justiça que transcende as conveniências efêmeras, é o verdadeiro paladino do Direito. Neófitos, será necessário que em vosso caminho recordeis, com frequência, este ensinamento: que ser advogado não é apenas exercer uma profissão, mas cumprir um papel vital na preservação da equidade e da Justiça.
O exemplo de Sobral Pinto, figura cuja bravura jamais se curvou à tirania, recorda-nos que a advocacia é um sacerdócio. A prática do Direito requer muito mais que erudição; ela exige um compromisso visceral com os valores da liberdade e da igualdade. Que sua coragem ao defender os perseguidos em tempos sombrios inspire cada um de vós a jamais recuar diante da injustiça, lembrando que a dignidade humana é a pedra angular sobre a qual deve repousar todo o edifício jurídico.
Recordo, igualmente, a audácia pioneira de Myrthes Gomes Campos, que, ao tornar-se a primeira mulher inscrita na Ordem dos Advogados, não apenas rompeu barreiras, mas abriu novas trilhas para a advocacia. Sua presença entre os luminares de nossa história é um farol para todos nós, demonstrando que o Direito é uma vocação que não conhece gênero, raça ou condição, mas que se destina a todos aqueles que possuem a firmeza de caráter necessária para servir à Justiça.
Ainda, invoco o espírito indomável de Luiz Gama, cuja trajetória como advogado abolicionista personifica a essência transformadora do Direito. Sua vida e obra nos ensinam que o jurista deve ser, acima de tudo, um agente de mudança, alguém que utiliza as ferramentas da lei para derrubar os grilhões da opressão e inaugurar uma nova era de liberdade e dignidade.
E como olvidar as lições do grande Norberto Bobbio, cujo pensamento filosófico iluminou as mais complexas discussões sobre os direitos humanos? Ele nos ensinou que o advogado é, em sua essência, o guardião do Estado de Direito, o protetor das liberdades civis e o engenheiro da paz social. Que vossas carreiras possam ser pautadas por este nobre ideal, o de defender, incansavelmente, os valores que sustentam uma sociedade justa e equitativa.
Caríssimos neófitos, ao embarcarem nesta nova fase de vossa vida, lembrai-vos de que a advocacia não é apenas uma ocupação, mas uma missão. Em cada litígio, em cada petição, em cada defesa, estareis, na verdade, sustentando a balança da Justiça. Que vossas vozes, embebidas no saber jurídico, se tornem instrumentos de transformação social, e que vossos corações sejam sempre guiados pela verdade, pela retidão e pela inabalável devoção ao Direito.
Sejam, pois, bem-vindos a este sagrado ofício. Que a sabedoria dos antigos e a luz dos princípios imutáveis vos guiem em cada passo, e que, ao final de vossa trajetória, possais olhar para trás com a certeza de que fostes fiéis ao juramento maior: servir à Justiça e, com ela, perpetuar a liberdade.
*João Paulo Saraiva
Advogado e Conselheiro Subseccional da OAB Mossoró